quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O samba perdeu Edu da Barroca, escola perde seu diretor de Carnaval

Veja a entrevista de Eduardo Silva para o site da escola
 
"Estou na escola desde a fundação, 7/8/74, e pretendo ficar aqui até quando Deus permitir.”

Eduardo Silva, mais conhecido como Edu, é um velho conhecido da Barroca, já que freqüenta a escola desde sua fundação, mas para quem não o conhece, esta é a grande oportunidade de saber um pouco mais sobre mais uma personalidade da nossa querida Barroca.


Por Luciana Oliveira


O que faz um diretor de carnaval?
Um diretor de carnaval participa diretamente do desenvolvimento do carnaval da escola desde a escolha do enredo até o dia do desfile.
Como o carnaval entrou na sua vida?
Bem... a Barroca foi fundada ao lado da minha casa, na Rua Padre Machado e o saudoso Pé Rachado era meu visinho, minha família freqüentava a escola. Eu comecei a sair na bateria e já passei por vários setores..
Sempre na Barroca?
Para mim, a escola de samba é como se fosse um time de futebol, nunca trocar a camisa e sempre dar continuidade e ser sincero ao que você faz.
O ilustre Pé Rachado morava perto da sua casa?
Sim! Inclusive a família dele ainda reside na Padre Machado, na antiga vila.
Como era o seu contato com o Pé Rachado?
Na época era bem próximo.
Ele freqüentava a sua casa?
Praticamente ele era amigo da minha família, do meu pai. A esposa dele ainda é viva, o filho dele, o Binha, foi um dos primeiros mestres de bateria da Barroca, ainda faz parte da nossa família, um sambista atuante no carnaval de São Paulo e que continua prestando serviços para nossa entidade.
Qual o carnaval da Barroca mais marcante para você?
Para mim que desenvolve e participa, todos os carnavais são marcantes. Principalmente quando a gente ganha, como no caso do carnaval de 2002, quando fomos campeões do grupo de acesso.
Por quais setores da Barroca você já passou?
Já fui ritimista, tocando chocalho e tamborim, já fui diretor de harmonia, diretor social, diretor de carnaval e assessor da presidência.
Quando você começou a tocar na bateria alguém lhe ensinou ou você foi instintivo?
Quando a quadra era na Paulo Figueiredo, uma travessa da Imigrantes, o mestre Binha ensinava a mim e às pessoas que moravam na redondeza a tocar alguns instrumentos, a princípio começávamos tocando instrumentos que não comprometessem o andamento da bateria, como o chocalho, por exemplo.
Você ainda toca?
Ah, sim, toco alguma coisa! Mas há muitas passagens que eu não acompanho mais.
Qual é a melhor parte do carnaval?
A melhor parte e que eu estou acostumado a fazer é o desenvolvimento do carnaval. É parecido com o nascimento de uma criança, você começa a cuidar e vai ter que criá-la até quando crescer, ajudando a poder produzir frutos para ser vencedora. Porque o nosso objetivo é ser sempre campeão!
Você conhece o carnaval do Rio de Janeiro, qual sua opinião?
Durante cinco anos prestei serviços à Liga, na gestão do Robson de Oliveira, eu era secretário, e todo ano nós acompanhávamos os desfiles de segunda-feira no Rio, para aprender com a estrutura de lá e trazer para São Paulo. Há muitas coisas que é feito no Rio que em São Paulo ainda estamos atrasados. Em matéria de carnaval a captação de recursos é bem melhor do que aqui, são mais empresas que investem lá. Ainda não temos tanta credibilidade como se tem no Rio.
Qual seria seu sonho?
Meu sonho seria ganhar na Mega Sena para fazer a Barroca retornar ao Grupo Especial.
E você acha que o que falta para a Barroca é dinheiro?
A gente não tem a credibilidade no grupo de acesso e assim fica difícil a captação de recursos. Pela primeira vez a Liga fez uma parceria com as escolas do Especial e Acesso e hoje temos um CD duplo, que contém os sambas dos dois grupos. Em matéria de Merchandising acho que vai melhorar bastante para nós este ano. A data de lançamento foi dia 2 de dezembro, no Dia nacional do Samba, na Rosas de Ouro. Para nós foi um grande passo, este é um espaço que queríamos alcançar, porque quem compra o CD do especial vai poder escutar os sambas do especial e do grupo de acesso também.
E para onde vai todo o dinheiro arrecadado com a vendagem dos CDs?
Tudo será dividido entre as escolas dos grupos do especial e acesso.
O que a Barroca Zona Sul representa pra você?
Pra mim a Barroca representa tudo. Eu vivo o carnaval, o telefone que não pára!
Como dividir os momentos entre família e Barroca?
Minha família sempre divide os bons e maus momentos que a gente passa, acho que isso é uma forma de colaboração e participação de todos que ajudam de forma direta ou indiretamente a nossa escola.
Qual é a idade mínima para fazer parte da ala mirim?
A partir de 7 anos de idade, desde que os pais autorizem o desfile da criança perante ao juizado de menores.
Até onde você pretende chegar, almeja um dia ser presidente?
Estou na escola desde a fundação, 7/8/74, e pretendo ficar aqui até quando Deus permitir. Não almejo ser presidente, é muita dor de cabeça, presidente hoje em dia, para uma escola de samba, tem que ter dinheiro. Eu prefiro cuidar da parte técnica.
Se você fosse carnavalesco qual seria o tema que colocaria na avenida?
Os melhores temas para a Barroca sempre foram os enredos afros, que se observarmos sempre tivemos bons resultados.
E se você tivesse que inventar um enredo que ainda não saiu, qual seria?
A gente tem a idéia de lançar um enredo em homenagem ao Quilombo da Zona Sul, um bairro que existiu aqui na Zona Sul e era como se fosse uma nação. Hoje há poucas pessoas que conhecem essa história.
Você tem muitos materiais de escolas de samba em sua casa?
Claro! Tenho muitas fotos, fitas e DVDs. Na minha casa seria mais um arquivo. Tenho material desde o início do trabalho no Barracão até o desfile. Pego fotos de quem tira na avenida e vou guardando para documentar tudo.
De diversas escolas ou só da Barroca?
Não me interesso por material de outras entidades, não estou desmerecendo nenhuma, mas eu procuro guardar mais o que é patrimônio da Barroca.
Desde o início de um carnaval até a data do desfile, qual é a parte mais difícil?
A parte mais difícil é levar as alegorias para o sambódromo, é como se fosse uma gravidez de “um ano”. Durante esse período você vê um carro sair do ferro, crescendo, e depois ser apresentado na avenida! Tem que ter muito cuidado mesmo para que as alegorias cheguem intactas e não causem nenhum dano e nem prejudique o desfile.
Já aconteceu alguma coisa desesperadora no transporte dos carros?
Na época em que o Barracão era aqui na própria quadra (Av. Prof. Abraão de Moraes), transportávamos os carros daqui para o Pólo Cultural do Anhembi via Marginal Pinheiros, Bandeirantes, aconteciam diversos problemas. Uma vez, no carnaval de 92, no decorrer desse trajeto, um rapaz caiu do carro e quebrou a perna e o braço. Depois com a captação de recursos e apoio de vereadores, nós conseguimos aquele espaço atual no Bom Retiro, na Rua General Flores, 800, perto do sambódromo. Ano passado um dos carros se chocou com um poste e deu um curto circuito e quase caiu um fio de alta tensão em cima da gente. O fio ficou chicoteando no chão, nós saímos correndo, porque se aquele fio pega na gente não estaríamos aqui para contar essa história.
Você se lembra de algum fato engraçado durante esses anos que você esteve na Barroca?
Um dia eu e mais alguns dirigentes estávamos aqui na quadra liberando os últimos ônibus para sair para o desfile, nós sempre éramos os últimos a sair para verificar se não falta nenhum componente. O filho do Borjão, na época tinha uns três anos de idade, quando chegamos na Avenida percebemos que havíamos esquecido o moleque dentro da quadra. (risos)
E aí... voltaram desesperados ou primeiro desfilaram e depois pegaram o menino? (risos)
Ah não, tivemos que voltar, né?! (risos)
O que a Barroca tem que as outras não têm?
O nome Faculdade do Samba! No mundo do samba somos tratados como celeiro de bamba, no passado vários sambistas que hoje fazem parte do carnaval de São Paulo dos grupos do acesso e especial passaram por aqui e tiveram uma participação com a entidade, por exemplo, Tornado (in memorian), Mestre Fubá (in memorian), Gabi, Ednei, Lobão, Eumar Meirelles, Agnaldo Amaral, Ivan do Arte Final, Zé Maria, Zé Carlinhos, hoje intérprete que mais ganha sambas na Vai-Vai, inclusive foi ele, que também é um dos fundadores da Barroca, quem criou o logo da Barroca, o desenho e a criação da arte.
Qual é a idéia do logo?
A idéia inicial do logo é mostrar uma criança de fralda iniciando a trajetória no samba com um tamborim na mão, depois ela cresceria, assim como a Barroca cresceu.
Dentre os diversos projetos que a Barroca oferece para a comunidade, comente alguns deles?
Temos o Acessa São Paulo, gerado a partir de uma parceira entre a Barroca e o Governo do Estado de São Paulo que doou 10 computadores para crianças carentes e para a comunidade local que podem utilizá-los gratuitamente, muitos montam seus currículos para enviar para empresas, além disso, tem acesso à internet. Há duas monitoras que fazem parte da comunidade que cuidam do espaço.
Outro projeto da Prefeitura que temos na quadra é o chamado Viva Leite, que consiste na distribuição de leite para a comunidade carente e a quem necessita.
Estamos tentando introduzir um consultório odontológico, inclusive já está montado, já temos cadeira, alguns equipamentos e até dentista, agora estamos na fase de captação de recursos para poder dar andamento.
Quem poderá usufruir deste projeto, precisa fazer alguma inscrição?
Nós estamos pensando em criar uma taxa mensal simbólica, aproximadamente R$ 5,00, para a pessoa ser associada e fazer as consultas dentárias.
Como se fosse um convênio?
Isso! Estamos próximos às regiões muito carentes e se temos condições de ajudar a gente ajuda. Quando necessário vamos atrás de vereadores para poder pedir cadeiras de rodas, cestas básicas. A Barroca Zona Sul também é uma instituição social! Como esse espaço é cedido pela prefeitura devemos também ajudar as famílias de nossa comunidade.
Quer dizer mais alguma coisa para finalizar?
Digo que a Barroca Zona Sul não tem dono. Hoje sou diretor, amanhã será a minha filha ou a sua. O nosso amor pela escola passa de geração em geração, por isso ela é de todos nós. Enfim é de todos aqueles que querem colaborar para o progresso de nossa entidade.
fonte: http://www.barrocazonasul.com.br/

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