Há 78 anos nascia, em Campos de Goytacazes (norte do estado do Rio de Janeiro), nosso Fundador e Baluarte-Mor Juarez da Cruz.
Juarez desembarcou em São Paulo em 1948, trazendo lembranças do Carnaval de sua terra natal: o Boi Pintadinho, a escola de samba Mocidade Louca, o jongo, o maculelê... E logo passou a participar, com os irmãos e amigos, do nosso Carnaval de rua. Uma brincadeira irreverente, um grupo de rapazes vestidos de mulher, denominado Primeiras Mariposas Recuperadas do Bom Retiro. O grupo ficou a cada ano mais organizado, a ponto de, em 1963, a polícia abrir espaço na avenida São João para o grupo de garotos (desta vez fantasiados de palhaços) desfilar. E o locutor, do palanque, anunciar o bloco como “uma mocidade muito alegre”. O nome do locutor: Evaristo de Carvalho.
Logo após o desfile, cansados, os amigos sentaram-se a frente de um comércio na esquina da Avenida São João com a Rua Conselheiro Crispiniano. Discutiram sobre qual o nome que dariam ao bloco, e um deles, chamado Juarez da Cruz, disse: “o locutor disse que somos ‘uma mocidade muito alegre’, e até como uma homenagem a saudosa Mocidade Louca de Campos, nosso bloco já tem nome!” E assim, no Carnaval de 1963 o bloco ganhava seu nome: Mocidade Alegre!
Em 1967, devido a necessidade de reorganizar o Carnaval paulistano e dar novos e definitivos rumos aos desfiles, o bloco virou Escola de Samba, e assim estava fundado o Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba Mocidade Alegre, que teve ascensão meteórica e, chegando ao Grupo Especial, logo foi tricampeã. A expressão “cultural” sempre foi levada a sério por Juarez, tanto no desenvolvimento dos enredos (sempre buscando enriquecer culturalmente a comunidade) como na preservação do acervo e da memória do Carnaval e da própria agremiação. Foi notório, nos últimos anos, seu apoio para o fortalecimento do Departamento Cultural, bem como às ações do Departamento Jovem – tão importante para a formação de novos sambistas.
À frente da agremiação, Juarez foi o pioneiro em buscar grandes patrocinadores da iniciativa privada, fazendo parceria com o francês Phillipe Alain, presidente da rede de supermercados Peg Pag. Também impôs ao desfile a forma que todos os sambistas seguem hoje: alas, destaques e alegorias distribuídos de forma que o enredo seja claramente interpretado. Também foi o pioneiro em levar o samba de São Paulo para o exterior: em 1976, a Mocidade Alegre se apresentou na Ilha da Madeira.
“Ser Sambista é um Privilégio, Pertencer a Mocidade Alegre é Motivo de Orgulho!”
Juarez da Cruz, 1972
O lema “Morada do Samba”, dado à sede da Mocidade Alegre, não foi criado à toa: Juarez sempre se esforçou para que a quadra fosse um centro de convivência de sambistas, tendo sempre atrações convidadas que pertenciam às escolas co-irmãs, tanto daqui de São Paulo como de outras cidades como Santos e Rio de Janeiro. E na valorização da figura do sambista paulistano criou, em 1972, ano da primeira edição das 24 Horas de Samba (tradicional festa de aniversário da Mocidade Alegre), o prêmio Sambista Imortal da Morada do Samba, ofertado aos que se destacam por grandes feitos em nome da manutenção das raízes e pelo crescimento do Carnaval na Cidade de São Paulo.
Uma das cenas marcantes da história do Carnaval Paulistano é a presença de Juarez a frente da Escola com seu charuto e sua touca de pele de carneiro (presente do grande Mestre Candeia, presidente de honra da Ala de Compositores da Morada do Samba, na década de 70). Esta imagem tornou-se uma verdadeira lenda e até hoje está nas mentes e corações dos sambistas paulistanos. Conferindo assim, com muita honra e orgulho, identidade e tradição a nossa Mocidade Alegre.
E Juarez nunca mediu esforços pelo crescimento do Carnaval Paulistano: teve um importante papel de mediação entre os sambistas e o prefeito Faria Lima, para a oficialização do concurso de escolas de samba em 1968. Presidiu a UESP, a Liga, foi Embaixador do Samba e, há três meses, presidia, como Baluarte-mor, a recém-fundada Academia dos Baluartes do Samba de São Paulo.
O reconhecimento e o carinho ao grande Cardeal do Samba pode ser constatado na última terça-feira, dia 3 de março, em seu velório e funeral: familiares, amigos e sambistas de toda a cidade estiveram na Quadra Social da Mocidade Alegre, com seus pavilhões, e acompanharam o cortejo no cemitério ao som da bateria, cantando o samba-enredo Embaixadas de Sonho e Bamba (1980).
Querido Baluarte: todas as homenagens que fizermos serão poucas, por tudo o que você nos legou. Você estará presente a cada vez que o nosso pavilhão girar! Siga em paz, por caminhos de cristal e sob um lindo céu de diamantes!
Como grande vitorioso na vida e no samba, descansou com a honra de ver a Escola de Samba que fundou como a Campeã do Carnaval... Obrigado nosso Mestre... Sua lição será eterna. E, de onde estiver, esteja certo de que aqui não mediremos esforços para fazer da nossa querida Escola a grande vedete do Carnaval, pois seus ensinamentos estarão sempre conosco. Afinal, nunca estiveram tão atuais as suas palavras:
Fonte: MOCIDADE ALEGRE
Imagem: Acervo Cultural do G.R.C.E.S. Mocidade Alegre
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